terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

..." sem entranhas"..

Parecia um ritual...próximo ao carnaval, íamos,para o centro do
Rio,conhecer a ornamentação, "campeã do ano".
Era inacreditável,ver a criatividade,luxo e alegria de algumas ruas,
pois,no resto do ano,me pareciam bem tristes.Havia concurso para
tudo;marchinhas,sambas,decoração de avenidas,rei momo,rainha do
carnaval...os vencedores eram comemorados,com animados festejos
pré carvanalescos.Saíamos à noite,apreciando os bairros enfeitados,
para a festa de momo..-"o fantástico mundo carnavalesco da minha
infância".
Havia ,como hoje,desfiles de blocos,carros alegóricos ...e outros,
que nem lembro!.Durante alguns carnavais,assistimos a blocos e
carros alegóricos,...-"desfiles que adorávamos".
Papai,sempre,conseguia algum lugar estratégico,para termos uma
visão melhor do grande espetáculo:...escritório de amigos...uma
cobertura de outro...sacadas de prédios históricos,...um espetáculo
inesquecível!

Até que, num ano qualquer,ele(papai)teve (inquestionàvelmente)
uma idéia brilhante,nos proporcionando o melhor dos camarotes,com
uma" apoteótica escada"(dessas caseiras),provàvelmente, vinda,de
algum porteiro das imediações,e colocada,na beira da calçada.
Cada um de nós(meus irmãos e eu)ficou,num degrau,e conseguimos
ver o desfile, bem de perto.Meus pais tomavam conta de nós,quando
uma senhora colocou seus filhos,nos outros degraus .
Minha mãe dando uma desculpa qualquer,pediu que retirasse as
crianças.A mulher,furiosa,saiu gritando,-"você é uma mãe sem
entranhas",repetindo,escandalosamente, até desaparecer de
nossas vistas . Bem, o resto da noite foi maravilhosa ,no nosso
"invejável camarote" tão especial.

Acho apaixonante a capacidade que o cérebro tem de lembrar
fatos distantes ,que certamente foram importantes,e por isso
gravados pela memória.
Até hoje,com a chegada do carnaval ,rememoro essa passagem
pitoresca,e a palavra" entranhas" lembra minha mãe,que
saciando minha curiosidade,deixou-me indignada com a explicação,
pois de " mãe sem entranhas " ,ela,nunca,poderia ser chamada ...
era "MÃE " em maiúsculo ,"LITERALMENTE ".